000

“Strong Dream”, Paul Klee (1929)

Já conheço bem esta realidade dentro de mim para poder falar sobre ela com algumas certezas.

A sociedade 000 recebeu este nome, pois todos conseguem ler números, é a linguagem universal. Este mundo tem os seus altos e baixos, a nível de relevo claro. Desde montanhas altas e mares profundos a vales e rios, há de tudo. Também a chuva é uma conhecida, não só o sol e os seus dias iluminados e felizes. Este mundo parece, ao início, algo igual, ou próximo, à realidade da Terra. No entanto, num momento de evasão, falarei das particularidades de 000.

Encontrei uma sociedade que procura assegurar a existência de um propósito para a vida de todos. A nível pessoal, sei que é importante que as famílias não excedam o limite de uma criança por casal. Como me explicaram, as crianças começam, desde novas, a ser introduzidas ao valor e à importância do trabalho para o funcionamento e organização da sociedade. São, assim, preparadas na escola com níveis de educação iguais e com as bases necessárias para qualquer futura área que escolham. A educação igual irá prevenir diferenças significativas nas capacidades adquiridas. Eu, que venho de fora, encontro-me pasmada com o nível de competências que as crianças têm ao sair da escola. Aos 15 anos, os estudantes devem, obrigatoriamente, candidatar-se ao seu futuro emprego; com o número de vagas limitado em algumas áreas. Quanto melhores os resultados escolares, maior a chance de seguirem a sua primeira opção, mas nunca são ignorados os interesses e as capacidades pessoais. Esta situação serve para assegurar uma competitividade saudável entre os jovens e o desejo de satisfação profissional e pessoal. Após admitidos na sua área, os novos empregados passarão por um curso que os preparará para o seu cargo. É possível mudar de área e trabalho, sendo necessário assumir a posição de recém-chegado.

Percebi que a sociedade está dividida em setores para melhorar a sua organização e para garantir que todos têm um lugar. Estes funcionam como departamentos onde se reúnem todas as áreas similares. Tome-se o exemplo dos setores científico ou artístico que juntam todas as profissões do género. Há áreas mais reconhecidas e daí mais ricas, tal como há mais pobres. Apesar da rigidez imposta no trabalho, todos tem acesso a férias e a dias de descanso semanais (numa semana terrena serão os dias relativos à quarta-feira e Domingo). Esta separação entre os dias torna a semana mais produtiva, o que eu aprecio.

Para governar está formado um grupo de representantes que é renovado de 4 anos a 4 anos para impedir más práticas por habituação. Este grupo rege-se pelas leis originais, da natureza, e é composto por um membro eleito por cada setor; o que tem maior influência na política é, sem dúvida, o dos intelectuais, que inclui desde advogados a filósofos. O sistema funciona como uma epistocracia. Com isto, digo que só as pessoas formadas a nível político e no tema da proposta podem tomar decisões, o que me parece o mais correto. Apesar de política ser levemente abordada na escola — daí todos os setores terem opinião e um representante —, a decisão final pertence aos intelectuais. No plano judicial, também pertencente ao setor intelectual, vemos uma total independência do governo; estes fazem respeitar as leis originais e novas (renovadas a cada novo governo).

Deparo-me com uma sociedade que, tal como todas, tem os seus opositores e críticos, pois ainda está em processo de amadurecimento. Aqui as pessoas podem expressar as suas opiniões aos representantes do setor, que deverão passá-las ao governo, se tal fizer sentido. Quem se opõe de modo total ao sistema será submetido a um processo de reeducação, que é do conhecimento público, onde são relembrados dos valores que gerem a civilização. Caso a oposição e radicalismo se mantenham, a pessoa será submetida a uma realidade virtual, onde viverá numa sociedade norteada pelos seus princípios e valores ideais. Esta realidade virtual irá confrontar o sujeito com todos os problemas que este nunca encontrou na sua mente. O objetivo é que o paciente perceba que nenhuma sociedade é perfeita e, a meu ver, é melhor aceitar a qualidade de 000.

Depreendi desta viagem interior que a mente humana é um poço infinito de criatividade e esperança que anseia por superação e satisfação.

Carolina Castro, 11.ºE

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