O livro “Admirável mundo novo” de Aldous Huxley trata-se de um romance distópico que retrata um hipotético futuro longínquo onde os seres humanos são pré condicionados bio e psicologicamente, com vista a obter as tão esperadas harmonia e organização sociais. Através de uma sociedade dividida em “castas”, cada ser humano é automaticamente obrigado, desde o nascimento, a conformar-se e a aceitar a sua condição, sendo que esta nunca mudará ao longo da sua vida. Veja-se, por exemplo, a expressão proferida por uma das personagens: “o segredo da felicidade e da virtude, gostar daquilo que se é obrigado a fazer”. Deste modo, cada pessoa vive na sua ilusão de felicidade, reforçada pelas ideologias que lhe são ministradas durante o sono aquando da sua juventude e pelos comprimidos “soma” (felicidade química). É importante referir, desde já, que palavras como “família”, “amor”, “Deus” e “tristeza” são desconhecidas para a maior parte da sociedade. Em suma, a liberdade é condicionada em prol de um suposto “bem-estar” geral e da ordem e estabilidade desta comunidade.
Apesar de, a meu ver, a história propriamente dita assumir, no livro, um caráter secundário, é importante mencionar a importância de quatro personagens: Lenina e Bernard (seres humanos pré condicionados) e John e Linda (selvagens pertencentes a uma reserva, na América Central, que resistiu à implementação da dita “civilização”). Através do contacto entre estes, é possível encontrar o grande paradoxo entre as duas realidades e, assim, analisar os méritos e as falhas de cada uma.
O narrador do livro é não participante e a linguagem utilizada é acessível, pelo que qualquer potencial dificuldade na leitura da obra não se deverá, na minha opinião, à incompreensão da escrita, mas sim à complexidade dos temas e das questões nela abordadas.
Em jeito de conclusão, não obstante ter sido escrito em 1932, tanto a mensagem como a crítica a uma certa desumanização da sociedade permanecem atuais, pelo que considero a leitura de “Admirável mundo novo” cada vez mais urgente, uma vez que temo pela nossa aproximação à sociedade na obra descrita. Assim, este livro levará o leitor a questionar-se sobre a nossa constante procura pela perfeição cientifica e pelas hipotéticas estabilidade e organização sociais, em detrimento da nossa própria liberdade, identidade e consciência moral.
Ana Lia Mendo, 10.ºC