Um Cartão Misterioso (Continuação de uma Narrativa)

“Uma manhã, quando se dirigia à secção de poesia, como costumava fazer depois de tomar café, houve algo que lhe chamou a atenção. Ali, encaixado entre dois livros, um pequeno cartão de cor azul sobressaía de um modo apelativo. […] Já no gabinete, abriu o livro e examinou o cartão com maior cuidado. Ali estavam os versos que a tinham emocionado, escritos à mão com uma caligrafia elegante, as letras desenhadas com tanta delicadeza como se fosse um ideograma chinês. A surpresa de Sara foi enorme quando, ao voltar a examiná-lo, descobriu que num dos cantos da parte de trás surgia escrito a lápis o seu nome com letras minúsculas, tão minúsculas que lhe tinham passado despercebidas nas primeiras observações. Aquele cartão era-lhe dirigido. Alguém o colocara naquele local para que fosse exatamente ela a descobri-lo.”

Assim começa o conto “Um Silêncio Ardente”, do autor galego Agustín Fernández Paz, que integra a obra Só Resta o Amor. Foi proposto aos alunos darem continuidade ao excerto. Apresentaremos, ao longo dos próximos dias, algumas das respostas ao desafio.

*

O inesperado aparecimento daquele cartão secreto provocara uma terrível tempestade de perguntas sobre a cabeça confusa e apaixonada de Sara.

Como tentativa de se afastar da desordem por onde o seu pensamento divagava, optou por ir a um café, onde diariamente aproveitava o seu tempo livre.

Entrou, e como era habitual, sentou-se na mesa ao lado da janela, no fundo da sala. Aquele era o seu pequeno refúgio, onde nenhum problema a incomodava. Pelo menos era o que costumava acontecer, pois, pouco depois de tomar o seu lugar, os seus olhos depararam-se com um pequeno bilhete colorido, onde se destacava a inconfundível letra do seu admirador. Agarrou-o bruscamente, e em breves momentos leu cada uma das suas intensas palavras:

Vai alta no céu a lua da primavera

Penso em ti e dentro de mim estou completo.

Aqueles versos pertenciam a um dos poemas de Fernando Pessoa, um dos seus poetas prediletos.

Agora, uma única questão a importunava: “Quem lhe estaria a enviar aqueles cartões?”.  Interrogou o empregado sobre quem ali estivera, mas o mesmo não lhe conseguiu responder.

De rompante, a jovem apercebeu-se de um vulto que se aproximava de si. Aproximou-se de tal forma que, por entre os rebeldes raios de sol que invadiam o espaço, foi possível lobrigar a sua aparência.

Era um jovem alto e esguio, com desobedientes cabelos mais negros que a noite e uns olhos de céu, tão brilhantes, que irradiavam a paixão que carregavam. O nervosismo mordia os seus finos lábios esperançosos. Nos seus punhos cerrados aprisionava o terror que o assombrava, e o seu perfume, mais intenso que as flores da primavera, invadia toda a divisão. O seu aspeto rigorosamente cuidado transparecia a importância daquele encontro.

Ao chegar junto da rapariga olhou no mais fundo dos seus olhos e declamou o poema escrito na nota, acrescentando:

— Como nada alguma vez me preencheu!

Sara deixou escapar um tímido e aterrorizado sorriso, questionando:

— Foste tu quem me deixou os bilhetes?

O jovem riu-se debilmente.

— Sara, tu és mais para mim do que alguma vez poderás ter sequer imaginado — esta foi uma declaração simultaneamente amedrontada e confiante.

— Queres sentar-te? — perguntou Sara, finalmente.

Passaram o resto do dia, conversando sobre si, enquanto no ar pairava uma única questão: seria aquilo o início de uma promissora, bonita e duradoura história de amor; ou seria apenas um ponto final de um apaixonante mistério?

Maria Cerqueira da Silva, 8ºD

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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