Como Pessoa Vê Botto

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Após a visualização do documentário “Grande Portugueses – Fernando Pessoa”, os alunos efetuaram algumas pesquisas sobre o grande poeta do Modernismo e sobre outras figuras a ele associadas.

Como Pessoa vê António Botto

“De um modo geral, ainda que concreto, pode dizer-se que a obra poética de António Botto gira e se anima em torno de quatro ideias, ou estados mentais — a emoção sem paixão, a inteligência das superfícies, o sentimento contraditório, e a ironia emotiva. Estes quatro elementos não são, porém, diversos, desconexos ou simplesmente justapostos: derivam de um mesmo fundo temperamental, que por todos eles igual e concordantemente se manifesta. Por emoção sem paixão entendo, como sem dificuldades entenderá qualquer, que os estados emotivos do poeta não comportam, nem envolvem, nenhum aprofundamento ou intensificação. António Botto não analisa emotivamente as suas emoções, nem de tal modo nelas se concentra que automaticamente se animem, aqueçam, se convertam em paixões. A elegância espontânea do seu pensamento, a dolência latente de sua emoção asseguram-lhe facilmente, conjugando-se, a mestria nesta espécie de lirismo […] Distingue-se pela simplicidade perversa e pela preocupação estética destituída de preocupações. Foge da complicação com o mesmo ardor com que se esconde da intenção directa. É em verdade singular que se seja simples para dizer exactamente outra coisa, e se vá buscar as palavras mais naturais para por meio delas ter entendimentos secretos. Certo é que o que António Botto escreve, em verso ou em prosa, há que ser lido sempre com a intenção posta em o que não está lá escrito.”
Fernando Pessoa acerca do livro “Ciúmes” de António Botto na sua obra “Textos de Crítica e Intervenção”



Se passares pelo adro
No dia do meu enterro,
Dize à terra que não coma
Os anéis do meu cabelo.
Já não digo que viesses
Cobrir de rosas meu rosto,
Ou que num choro dissesses
A qualquer do teu desgosto;
Nem te lembro que beijasses
Meu corpo delgado e belo,
Mas que sempre me guardasses
Os anéis do meu cabelo.
Não me peças mais canções
Porque a cantar vou sofrendo;
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.
Se a minha voz conseguisse
Dissuadir essa frieza
E a tua boca sorrisse !
Mas sóbria por natureza
Não a posso renovar
E o brilho vai-se perdendo…
– Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

António Botto

 

 Francisca Martins, 12º A
(pesquisa e seleção dos textos)

 

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