“Fernando Pessoa – Plural como o universo” foi uma exposição promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian, que já tinha sido realizada no Brasil. Nela esteve o famoso retrato de Pessoa por Almada Negreiros, assim como alguns dos seus pertences pessoais, com destaque para livros da sua biblioteca e a arca de madeira onde guardava os seus manuscritos. Foram apresentados ainda poemas seus e dos seus heterónimos mais importantes – Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares. Alguns destes documentos estavam a ser mostrados ao público pela primeira vez. A disposição dos elementos no espaço era modernista e interativa.
Curiosamente, o que me despertou mais interesse foi o título “Plural como o universo”. Na verdade, “Sê plural como o universo!” foi uma frase rabiscada por Fernando Pessoa numa folha de papel. Se pensarmos bem, o universo é plural – tem várias estrelas, vários planetas, vários cometas e asteroides – como o poeta. Intelectualizava tudo, incluindo os sentimentos, o que o levava a ter diversas opiniões. Em momentos do seu percurso de vida em que essas opiniões entravam em conflito, tornava-se instável e incapaz de manter a sua unidade. Então, fragmentava-se em seres mais estáveis. Se Pessoa, enquanto um, não conseguia chegar a lado nenhum, talvez esses partes do poeta, tomando caminhos diferentes, conseguissem. Após múltiplas repetições deste processo, cada um dos seres representava uma corrente de pensamento. Esta é uma possível explicação para a génese dos heterónimos.
Segundo Richard Zenith, “era um escritor que estava sempre em movimento e defendia que uma pessoa com uma mente ativa não se podia fixar numa só opinião. Por isso, Pessoa se contradiz. Não acreditava na Verdade, para ele havia muitas verdades, com pontos de vista diferentes talvez se pudesse chegar a algum lado”.
O objetivo da exposição era indisciplinar. O próprio Fernando Pessoa se dizia um “indisciplinador de almas”, abalando, através da poesia, o chão de preconceitos em que caminhávamos e criando um novo chão de bases sólidas. Num primeiro momento sentir-nos-íamos a cair num abismo escuro sem fundo, mas assim que esse último chão se erguesse sob os nossos pés, poder-nos-íamos levantar em segurança, conhecendo um pouco mais sobre o mundo e sobre nós próprios.
Francisco Dias
'Uma biografia' de Pessoa desvenda o homem e a obra literária • VILA NOVA
[…] uma fotobiografia de Pessoa (em parceria com Joaquim Vieira) e foi cocomissário da exposição Fernando Pessoa: Plural Como o Universo (São Paulo, 2010; Rio de Janeiro, 2011; Lisboa, 2012). Richard Zenith traduziu não apenas várias […]