O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler, retrata a história da perseguição aos judeus na Idade Média. A ação é narrada do ponto de vista de Berequias Zarco, sobrinho de Abraão Zarco — um dos judeus mais influentes da época (a família Zarco havia sido obrigada a converter-se).
Deste modo, o enredo tem como temas principais a intolerância e o medo. O medo manifesta-se diversas vezes ao longo da obra, por exemplo, pelo facto de toda a cidade de Lisboa ter sido assolada por um período de seca severa e uma grave pandemia – a peste negra. A inquietação é, de igual forma, demonstrada por Berequias, quando encontra o cadáver de seu tio junto com o cadáver de uma mulher desconhecida e se apercebe de que, também, havia sido roubado um dos mais valiosos manuscritos do culto judaico. O pavor de Berequias intensifica-se, após este se questionar quem teria matado o seu Mestre. Quem seria o assassino: um cristão-novo, que o havia atraiçoado, ou um cristão velho? Mais tarde, a ansiedade manifesta-se, mal se inicia a matança dos cristãos-novos, durante a qual foram assassinados cerca de dois mil judeus portugueses – “Lisboa era uma Veneza de sangue.”.
Da mesma maneira, também a intolerância invadia aquela cidade, sobretudo nas celebrações da Páscoa de 1506 (período do massacre). A discriminação sentida pelos judeus portugueses, quando eram perseguidos, torturados e mortos era justificada pelo facto de os cristãos acreditarem que os cristãos-novos estavam por detrás dos crimes que vitimaram as crianças cristãs: “Matai esses judeus do demónio! Que a justiça do Senhor caía sobre eles! Fazei-os pagar pelos crimes contra as crianças cristãs!”. O preconceito contra os cristãos-novos revela-se, de igual modo, pela convicção de que os judeus eram a causa da seca e da propagação da peste bubónica, como demonstra a fala de “uma velha encarquilhada”: “—A culpa é dos cristãos-novos. Eles é que causaram a seca!”.
Concluindo, embora a intolerância contra a religião judaica seja um tema fulcral da ação do romance, o testemunho de Berequias consciencializa-nos, em última análise, para o facto de que o país se tornou muito mais pobre após a matança e expulsão dos judeus portugueses.
Ana Melo, 10.ºA