“As Histórias que não se contam”, de Susana Piedade

As Histórias que não se contam, uma estreia de Susana Piedade, é um romance que descreve a vida de uma forma genuína, acompanhada por momentos de partilha, solidão, reencontro e união.

O enredo leva-nos a conhecer e a ouvir atentamente as histórias envolventes de três mulheres do Porto, cujas vidas ficaram marcadas perpetuamente. Ana, talvez pelo seu caráter persistente e corajoso, cria uma ligação com o leitor à medida que conta a sua história com João, o falecido namorado. Isabel, uma mulher descontraída e que saboreava a vida, vive, agora, na angústia, após a morte do seu filho Francisco. Já Marta, uma jovem forte, mas insegura, perde a sua identidade, “aprisionada” nas mãos do seu companheiro Gil.

A escritora dá, assim, voz a estas três mulheres que carregam um sofrimento incomensurável e aborda os diversos tipos de perda. Um acidente irá cruzar a vida destas mulheres e, incrivelmente, dará inicio a uma nova história. As narradoras superam os impasses da vida, criam uma amizade genuína e originam uma ligação única.

Há que destacar um aspeto crucial, como a escritora pretende transmitir ao leitor, estas histórias não se contam, porque, na minha ótica, ninguém estará presente para as ouvir. “São quase sempre imperfeitas, inacabadas, não têm voz de autor”. Deste modo, apenas uma amizade improvável de entreajuda ensinará estas três amigas a lidar com o seu sofrimento. Como Albert Einstein disse, “A compreensão de outrem somente progredirá com a partilha de alegrias e sofrimentos.”

Do ponto de vista formal, a obra destaca-se pela escrita cuidada, delicada e elegante da autora. Outro aspeto que, igualmente, fascina é a capacidade que tem de envolver o leitor, levando-o a vivenciar os próprios sentimentos das personagens. Refletimos sobre o sentido da vida e procuramos uma razão para certos acontecimentos nos marcarem.

Estas histórias têm de ser contadas, e não devemos deixá-las cair em esquecimento, porque “Não há perda maior do que aquela que cada um sente como sua.”

Inês Santos, 10.ºC

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