Cartas de um Cavaleiro Arrependido # 1

 

 

 

 

 

 

 

 

No contexto do estudo do romance tradicional “O Caçador”, de Almeida Garrett, foi solicitado aos alunos do 7.º ano que imaginassem que, no último momento, o cavaleiro mudava de ideias, decidindo pedir perdão à donzela e declarar-lhe o seu amor. Ao longo dos próximos dias, publicaremos alguns dos textos produzidos. Clicando na imagem, poderá aceder ao romance de Almeida Garrett usado como ponto de partida da atividade.

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Castelo Encantado, 13 de outubro de 1513

Minha bela e doce Princesa,

Escrevo-lhe para mostrar o meu arrependimento, transformado, neste momento, num mar de lágrimas sem fim que inunda este castelo solitário.

Dentro destas paredes frias, com o coração despedaçado, olho em volta e vejo um mundo cinzento que nunca antes havia observado. Preciso de Vossa Alteza mais do que as plantas necessitam de água e anseio por vê-la mais uma vez. As árvores lá fora parecem implorar para que desapareça, tocando o meu nobre coração e forçando-me a desistir. Agora, sinto o desespero e a mágoa e não entendo o porquê de viver. Cada vez mais surge na minha mente a imagem de Sua Majestade como um anjo divino que me sobrevoa. Os olhos da minha Princesa, como águas luzidias do mais belo lago, atraem-me mais de dia para dia. Por favor, aceite o meu perdão.

Despeço-me, assim, na esperança de receber uma resposta de Sua Alteza, para poder voltar a vê-la em breve.

Nobre Cavaleiro,

Francisco Neto

 

Castelo Encantado, 1 de dezembro de 1435

Sua Divina e Real Graça,

Dentro destas tristes muralhas me encontro, debruçado à janela do meu ilustre dormitório, a banhar-me em minhas lágrimas, pensando como pude ser tão cego ao ponto de recusar a mulher da minha vida.

Por este meio, pretendo demonstrar, pela nobre posição que assumo, o meu eterno arrependimento. Estive disposto a desistir da vida, já que na batalha entre o amor e a indecisão a última levou a melhor. Todavia, não contive o meu anelo e, assim, fui vagueando pela negra e sombria mata, desorientado e solitário, na tentativa de regressar à melancólica cidade que me acolhe. Como diz o ditado, a esperança é sempre a última a morrer e, com uma enorme sorte e um grande milagre à mistura, lá consegui chegar ao meu castelo.

Despeço-me, aguardando ansiosamente a vossa resposta, esperando que compreendais aquilo que vos tentei transmitir.

Os meus reais cumprimentos,

Cavaleiro Encantado

João Tomás Sousa

 

Castelo Encantado, 1 de janeiro de 1525

Doce e Esbelta Princesa,

Esta carta não é um simples papel com palavras, mas sim a expressão da angústia que aperta o meu coração.

Aquele dia não foi como todos os outros. Sentia que estava destinado a cair em desgraças, até que, em mais uma tentativa falhada de voltar a casa, os meus olhos não acreditavam no que observavam – parecia que um anjo caíra do céu. Diante de mim, encontrava-se uma encantadora donzela, sentada sobre os longos ramos de uma árvore, a comtemplar as luminosas e imponentes estrelas que se espalhavam pelo interminável céu azul.

Sua Alteza pediu-me, implorou-me, para a levar em minha companhia. Todavia, eu, em vez disso, descortinei mil e uma desculpas e corri desalmadamente pela floresta. Ia já a meio do meu caminho, quando a sua harmoniosa voz invadiu os meus pensamentos.

Os primeiros raios de sol já irrompiam por entre os longos e rugosos troncos dos plátanos. Foi nessa altura que compreendi a indelicadeza que eu, um desventurado cavaleiro, havia cometido para com Vossa Realeza. Voltei para trás, mas já era demasiado tarde. Uma avassaladora quantidade de cavalaria tomara posse do sossego da floresta. Já me encontrava deitado no chão, pronto a fazer justiça sobre mim próprio, porém faltou-me coragem uma vez mais. Levantei-me e segui abalado por entre a vegetação. Todos os seres vivos que por mim passavam pareciam fazer troça da minha atitude, rindo sem fim.

Ao chegar a este solitário castelo, a mágoa e o arrependimento tomaram posse do meu corpo, e, neste momento, a minha fortaleza está submersa pelo rio sem fim das minhas lágrimas.

Amável Princesa, apenas tenho um último pedido a fazer: perdoe a minha atitude e o meu coração ficará eternamente grato.

Despeço-me com a esperança de que Vossa Majestade me absolva, e aguardo ansiosamente por uma resposta sua.

Maria Ferreira

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