Palácio dos lírios, 10 de junho de 1503
Doce e sumptuosa donzela,
A minha mágoa sufoca-me de cada vez que penso em Vossa Alteza. O meu palácio transformou-se num lago de tristezas que me lembram a maldade que cometi. A princesa roubou o meu coração, pelo que pretendia demonstrar o meu arrependimento e remorso.
No momento em que os nossos olhares se cruzaram na azinheira, o meu coração saltava para fora do meu peito. A paixão que eu sentia era avassaladora. Eram doces as vossas palavras e com cada uma perdia-me de paixão. Todavia, quando ouvi o vosso pedido, senti-me receoso. Desde criança, a minha vida é bastante simples, logo, Vossa Alteza poderia não apreciar o meu dia-a-dia. Deste modo, procurei informar-me sobre a vida nos palácios e regressar no dia seguinte. Quando cheguei à mata, já outro nobre a havia levado. Senti-me dilacerado pela minha dor, optando, assim, por pôr fim à minha vida. Mas lembrei que Vossa Alteza não havia desaparecido e que ainda nos encontrávamos sob as mesmas estrelas.
A vergonha apoderou-se de mim, desde então. Por isso, optei por lhe escrever este texto e demonstrar-lhe o meu eterno amor por si.
Despeço-me, esperançoso de que, em breve, receba uma resposta sua e o seu perdão.
Cavaleiro,
Ana Carolina Torrão
Castelo Encantado, 15 de dezembro de 1554
Digníssima Princesa,
Escrevo-lhe esta carta para mostrar o quanto a estimo. Peço mil e uma desculpas pelo acontecimento que teve lugar naquela mata sombria, que mais parecia um túnel sem tochas para o iluminarem. Lamento, se, a seu ver, eu, naquele momento, pareci arrogante. Porém, não tive intenção de a fazer sofrer. Sinto-me absolutamente desolado e angustiado.
Princesa, a tristeza apoderou-se de mim de tal forma, que nem tenho palavras para explicar como me sinto. Não quis dizer logo que a levaria comigo, pois temia que me pudessem ter preparado uma armadilha. Por causa dessa desconfiança, fui aconselhar-me com a minha tia, por ser uma pessoa sábia, experiente e boa conselheira.
No dia seguinte, ao voltar a mergulhar naquele bosque aterrorizante em busca de Sua Alteza, com grande pesar meu, não a vi. No momento em que abandonei a mata, fiquei destroçado e desiludido, visto a não a ter descoberto, provavelmente para sempre.
Rogo, do fundo do coração, que Sua Majestade entenda e que me responda o mais rápido que puder.
Cavaleiro XX,
Diogo Fernandes
Castelo Encantado, 2 de janeiro de 1453
Mui nobre Donzela,
Escrevo-lhe esta carta para manifestar os meus sentimentos e para vos revelar o arrependimento pela atitude insensata que tive, que não tem perdão. Porém, Vossa Alteza, com o Vosso coração bondoso, poderá absolver-me e salvar-me de uma terrível mágoa.
O castigo é merecido. Estou só no meu castelo a carpir lágrimas de amor que jorram pelo chão frio como braços de rios em direção ao mar. Esperei anos por uma verdadeira paixão e, quando Deus respondeu às minhas preces, duvidei da minha boa Fortuna e deixei uma Donzela tão linda abandonada à sua sorte. Malfadado temor de que uma maldição se tratava, pois que não resgatei Vossa Alteza daquela alta ramada apenas por falta de coragem e pela apreensão de não ser merecedor de tamanho destino.
Rogo-vos, assim, minha princesa, que ignoreis esta minha falta e do alto do Vosso esplendor, recebais este Vosso enamorado que, com boas intenções, Vos quer desposar.
Ansiosamente,
Cavaleiro Encantado
Lia Forman