Heirot, partituras em Berlim

<< Em 1924, olhou para mim como um cão mal-humorado, murmurou irritado que já não queria ouvir estas novas músicas e que a verdadeira música era a clássica. Eu já sabia como lidar com as rabugices de Topruscel Heirot, por isso desviei o assunto ao perguntar-lhe sobre o correio: — Mon Dieu! Estava tão distraído com … LER MAIS

Flora

Num abril primaveril emergiu, dos escombros do mundo, Flora. Um broto esquálido, alvo e luminoso percorreu lares diversos. Ora conviveu com um avô que perdera toda a sua família às custas de um genocídio, ora chegou a ser parte de uma família de lobos que a adotaram. Passada de mão a mão, Flora nunca teve, … LER MAIS

Novas Páginas de “Os Maias” – Chopin, Op. 62, no. 2

Chovia ferozmente. Os pingos d’água rugiam numa intensidade descontrolada. Ouviam-se as árvores a revolverem-se violentamente, as ramagens a espreitarem a água que tombava dos céus e um nebuloso sonido de trovoadas. Precipitou-se, alarmada com os raios que agora incidiam sobre a terra, bateu gentilmente à porta duma residência na Rua de S. Francisco. Um criado … LER MAIS

À maneira de Saramago…

Ai de mim, homem de pouca fé, murmura um velho ao pé da estátua do pobre general. Poderia ter sido um pensamento do nosso poeta, nosso salvo seja, que isso implicaria uma pequena carícia, um trocar de olhares, não que ele já não tenha deliciado os prazeres carnais, os caminhos de deus são insondáveis, fosse … LER MAIS

Medo de ti

Caminhava em direção à escola, arrastando as solas dos sapatos desgastados pelo chão áspero e frio do inverno rigoroso, enquanto os pássaros entoavam os seus cânticos melancólicos. A minha face e braços eram cortados pelo vento álgido, à medida que o meu cabelo esvoaçava acolhido nos seus braços. Após passar por várias ruas sinuosas e … LER MAIS

Medo

Por aquela altura ainda tinha medo. Nos dias insípidos de inverno, escondia-me do mundo, trancava-me nos meus pensamentos e esquecia-me de quem era. Pensava que assim tudo se resolveria. Não é verdade que o tempo cura tudo? Não, respondo. “Talvez se ignorar esta angústia, ela desaparece”, pensava eu. Pensamento tão absurdo e incongruente, que tinha … LER MAIS

Um Cartão Misterioso IV

O calor percorria-lhe o corpinho delicado desde a ponta dos dedos até à sua cara de porcelana, tingindo-a de um tom vermelho vibrante. As suas mãos impacientes deslizavam suavemente sobre cada letra, de cada palavra do tal poema, numa busca desenfreada pelo profundo significado daqueles apaixonantes versos. Sara registava nervosamente todas as hipóteses infundadas num … LER MAIS