Como Água para Chocolate, de Laura Esquível, é um romance delicioso e viciante que envolve o leitor numa história recheada de sabores, mas também de “dissabores”.
Assim, o amor épico e corajoso entre Pedro e Tita, os protagonistas, é-nos contado de um modo bastante familiar, proporcionando-nos diversos tipos de sensações, ao mesmo tempo que são partilhadas connosco múltiplas receitas antigas e invulgares e um belíssimo prato é confecionado. A narradora, que tem como protagonista a tia-avó, transporta-nos para o seio de uma família típica do México rural, nos princípios do século XX, em que as tradições são sagradas e as mulheres o ingrediente principal para o bom funcionamento da mesma. Contudo, Tita, a filha mais nova da família, contraria os ideais antiquados da mãe, Mamã Elena, e entrega-se ao amor com o atrevimento e persistência, que o gosto pela gastronomia desde criança lhe havia dado. Consequentemente, os pratos cozinhados pela jovem espelham os seus diferentes e múltiplos sentimentos durante o seu romance com Pedro – amor, desilusão, tristeza, solidão, entre outros – e, ao serem ingeridos pelos restantes membros da família, desafiam-nos também a descobrir a sua verdadeira identidade e ambições com uma ânsia inexplicável. Com efeito, a autora consegue expor sensações tão similares como as que a comida e o amor nos oferecem.
Vencedor de um ABBY, e adaptado já ao cinema, o livro, que nos trouxe a verdade sobre alimentos e sobre a paixão, numa perspetiva livre e criativa da mulher, tornou-se num sucesso mundial. A obra é pautada por momentos apaixonantes e impossíveis de não devorar rapidamente, como a entrega de Tita a Pedro, depois de tantos anos e de tantas tentativas em cumprir corretamente a receita.
Esta é uma obra fascinante que traz, juntamente com uma história de paixão proibida e todas as suas vicissitudes que foram pacientemente ultrapassadas, aromas cativantes e uma homenagem à força do amor e da mulher.
Matilde Vicente, 10.ºC