Homenagem a uma palavra lida em Herberto Helder

Por vezes de um dia que vivemos, de um filme, de um poema… por vezes de alguém, conservamos uma palavra. Não saberemos explicar porquê, mas essa palavra aloja-se dentro do nosso pensamento, atravessa vagarosamente os nossos silêncios, fecha-se à chave dentro de nós. Estamos, depois, sempre a vê-la. Anos e anos passaram e nunca pensámos nessa palavra ou no que ela nos traz. E, depois, estamos sempre a vê-la escrita ou a ver letras dispersas que quase, quase a escreveriam. A meio de uma conversa insuspeita, colocamos essa palavra, a testar, para adivinhar como seria se ela nos pertencesse, mas sabemos donde vem essa pequena herança que talvez o acaso, talvez o amor, abandonaram à nossa escuta, como se estivesse em nós a possibilidade de proteger ou até mesmo de salvar esse mundo tão vasto que, às vezes, é na nossa vida uma simples palavra.

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