Imre Kertész, vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 2002, faleceu ontem aos 86 anos. O escritor húngaro era um sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, para onde foi levado em 1944, com 14 anos.
A sua foi obra de um tema só: a sobrevivência. Mas não uma sobrevivência qualquer. Imre Kertész esteve em Auschwitz, para onde os judeus húngaros foram arrastados em 1944, nos estertores da II Guerra Mundial, e a seguir em Buchenwald, numa das últimas deportações de um conflito moribundo. Tinha na altura 14 anos. Se viveu para o contar, passou a vida a fazê-lo. Em 2002 tal entrega valeu-lhe o Prémio Nobel, o primeiro da história atribuído a um húngaro.
“Quando penso num novo romance, penso sempre em Auschwitz”, diria. “Sem Destino” (1975) e “A Recusa” (1988) provam-no, como o prova o livro que completa esta trilogia e que é também uma perspetiva do horror: “Kaddish para uma Criança que Não Vai Nascer” (1990). Em “Um Outro — Crónica de uma Metamorfose” (como os anteriores, editado em Portugal pela Presença), o autor analisa os regimes totalitários. E constrói um estilo de romance baseado na procura exaustiva das razões por que escrever. “Só posso agir com a minha escrita”, disse uma vez.