A peça O Ano da Morte de Ricardo Reis, baseada na obra homónima publicada por José Saramago em 1982, procura ser fiel à essência do romance, adaptando-o, ainda assim, de forma inovadora.
Após uma leitura da obra, seria natural o leitor esperar um texto dramático denso e extenso, que procurasse igualar os pormenores imaginados pelo autor relativamente aos últimos meses de vida de Ricardo Reis. No entanto, a inclusão de dois planos de ação coincidentes, encabeçados por Saramago e por Pessoa, confere à peça um lado cómico, concedendo-lhe uma leveza estimulante.
Deste modo, a constante sátira ao regime fascista, concretizada no texto pela personagem representada por Hugo Bettencourt — que dá corpo ao Saramago comunista, sagaz e arguto —, alternada com a descrição do poeta Fernando Pessoa, que é transformado num ser jocoso, retira “gravitas” à obra.
Por outro lado, a companhia Éter conseguiu, de forma excecional, revelar o conflito literário no qual o título da obra está alicerçado – a morte literária do classicista inventado por Pessoa. Assim, através das discussões entre os escritores, a peça denuncia as entrelinhas da obra, clarificando as intenções do autor – “ficção, sobre ficção, sobre ficção”.
A apresentação inicial das personagens e o encadeamento dos momentos cruciais da ação tornam a peça acessível àqueles que não têm conhecimento da obra da qual esta parte. Todavia, a ausência de personagens pitorescas, como Pimenta e Salvador, torna o texto excessivamente despojado. Dito isto, e não o podendo deixar passar em claro, também a personagem de Marcenda é um pouco desvirtuada, já que, na peça, o seu pudor é substituído por uma ousadia atípica da personagem retraída descrita por Saramago.
Em jeito de conclusão, a peça apresentada no convento de Mafra revela uma faceta mais divertida da obra de Saramago, conservando, embora com pouco detalhe, o fulcral do enredo da obra.
Beatriz Faria, 12.ºC
FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Texto: José Saramago;
Adaptação Dramatúrgica: Filomena Oliveira e Miguel Real;
Encenação: Filomena Oliveira;
Música Original e Orgânica Sonora: David Martins;
Interpretação:
(Saramago) Hugo Bettencourt;
(Pessoa) Miguel Mendes;
(Ricardo Reis) Rogério Jacques;
(Lídia) Leonor Cabral;
(Marcenda) Sara Rio Frio;
Vídeo: Barnabé Freixo
Operação Técnica: David Martins, Nuno Gomes, Carlos Arroja, Barnabé Freixo ou Pedro Florentino
Design: Rafael Galhardas
Produção: ÉTER – Produção Cultural
Etelinda Vieira
Sou professora da Escola Pedro Ferreiro de Ferreira do Zê zere e tenho um grupo de 45 alunos 0para ver a peça.
Gostava de saber de datas disponíveis para agendamento.
Muito obrigada.