O papel dos conflitos árabes na consolidação dos estados cristãos do Médio Oriente (a propósito de “As cruzadas vistas pelos árabes”, de Amin Maalouf)

De entre os vários temas desenvolvidos na obra As cruzadas vistas pelos árabes, de Amin Maalouf, pode destacar-se as querelas entre os muçulmanos. Com efeito, as disputas entre os dirigentes do mundo islâmico facilitaram a progressão da invasão franca e viabilizaram a consolidação dos estados cristãos no Médio Oriente.

O avanço da primeira invasão cristã de grandes dimensões foi favorecido pela luta pelo domínio do mundo do Islão entre os membros do Clã dos Seljúcidas, que eram, à época, os verdadeiros governantes do Médio Oriente. Em consequência dessa disputa, os muçulmanos tardaram a entender a magnitude da ameaça que a invasão cristã representava para os seguidores do Islão, tendo eles apenas conseguido organizar um exército capaz de fazer frente aos cruzados quando estes últimos já cercavam Antioquia, em 1097. Infelizmente, esse mesmo exército, que era comandado pelo atabeque Karbuka, governante de Mossul, acabaria por bater em retirada sem ter realmente combatido. A deserção deliberada das tropas sírias comandadas pelo rei de Damasco Dudak desempenhou um grande papel neste evento, que assim condenou a cidade sitiada e salvou o exército franco da aniquilação.

Outro exemplo de monta da discórdia que grassava entre os dirigentes muçulmanos desta época foi o conflito entre o rei de Damasco Dudak e o rei de Alepo Redwan, seu irmão. A luta travada por estes dois dirigentes resulta do desejo de ambos os monarcas de possuírem a supremacia na Síria. Consequentemente, o país árabe, dividido por este conflito, revela-se incapaz de formar um exército que pudesse defendê-lo eficazmente dos cruzados, que conquistam esta região com facilidade.

De referir, ainda, que também a instabilidade política vivida em Bagdade nesta época foi um fator crucial para o êxito da primeira invasão franca, pois privou os dirigentes islâmicos dos exércitos da Pérsia e da Mesopotâmia, aniquilando qualquer hipótese de expulsar os cruzados do Médio Oriente e de impedir a consolidação das suas conquistas. Este clima de tensão militar permitiu, assim, a criação dos estados francos no Médio Oriente.

Em suma, pude concluir, após uma leitura atenta desta obra, que muitos dos êxitos obtidos pelos cruzados nas primeiras décadas desta empresa se devem à discórdia que grassava entre os dirigentes islâmicos.

António Canha, 10.ºC

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