Estávamos já na décima jornada do nosso longo e atribulado caminho desde que partíramos de Jaci, quando avistámos por fim e com grande alívio, a província de Caragian, a qual tem uma capital do mesmo nome, onde poderíamos recuperar forças. Esta região, situada no sudoeste do Mangi, é das mais populosas e economicamente desenvolvidas de entre todas aquelas sob a autoridade do Grande Cã, sendo inclusivamente gerida pelo seu próprio filho. Os habitantes são adoradores de ídolos e vivem do gado e da terra.
Sabei que, aquando da nossa entrada na principal cidade, o deslumbramento sentido foi de uma grandeza indescritível, tal era a riqueza deste território. Havia, portanto, inúmeros comerciantes espalhados pelas ruas sinuosas e mercados da cidade, vendendo especiarias tão variadas que era uma maravilha. Nunca antes em toda a minha existência havia visto tais produtos ou foram os meus sentidos abalados por sinestesias tão violentas. Vou dizer-vos como isto foi possível. Existia aí um enorme barulho gerado pela azáfama da cidade, cores intensas e atrativas de toda a variedade de produtos aí comercializados e toda uma panóplia de agradáveis cheiros que deles se elevavam no ar.
Contudo, o aspeto mais fascinante foi a existência nesta província das maiores serpentes do mundo e todas as suas características formidáveis. O seu comprimento de dez longos passos e a grossura de dez palmos, juntamente com a sua ferocidade e capacidades enquanto predador, provoca imediatamente o medo generalizado em quem se aproxime do maravilhoso animal. Também vos digo que, apesar do grande perigo que representa, o fel do seu ventre serve como uma cura para quase todos os males, seja o facto de se revelar o melhor remédio contra a mordidela de um cão raivoso, seja a sua capacidade de curar qualquer inflamação em pouco tempo, aplicando-se um pouco de fel sobre a mesma.
Não havendo mais nada de relevante a recordar sobre esta província, dou por encerrado mais um capítulo da minha longa e nunca antes tentada viagem pelo Oriente.
Marco Polo
António Barros, 10.ºF