O que andamos a ler no 10º ano

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Segunda-feira, 13 de fevereiro do ano do senhor de 1534

Hoje foi, sem dúvida, um dia estranho, daqueles inesperados dias em que toda a espécie de momentos poéticos, pelo menos segundo pêro de alcáçovas carneiro, acontece. Agora que penso nisso, pêro não me chegou a explicar o que era um momento poético, estive todo o dia a pensar que sabia, se calhar riram-se todos de mim, não sei, amanhã tenho de o chamar.

De qualquer maneira, este foi um dia singular, não sei se por minha culpa, da rainha, do meu secretário, o que interessa é que deus se lembrou de me importunar, decerto gosta de trazer problemas a meros pecadores (ainda que seja a dom joão de portugal, o terceiro deste nome), se calhar diverte-se, tenho que falar com o bispo, talvez ele me explique. Ainda assim, não posso culpar o senhor, na missa dizem que tudo o que faz tem um motivo, nunca percebi qual, e , apesar de ter sido eu a lembrar-me do primo maximiliano, a culpa foi claramente da rainha, ela é que se lembrou do salomão, de mandarmos o elefante como presente, e depois teve o descaramento de dizer, quase a chorar, Coitado do salomão, gosto tanto dele, se gostasse tanto do bicho não sugeria que o oferecêssemos ao primo maximiliano, o que está feito está feito, não posso mudar nada, só de pensar no dinheiro que a viagem vai custar fico logo contrariado, terei de ir caçar pelo menos dez vezes para me alegrar, malditos sejam deus e a rainha e pêro alcáçovas carneiro com os seus momentos poéticos. E maldito seja o meu pai (que deus o tenha) por me ter trazido o elefante, o elefante e o indiano, aliás, sem eles nada disto teria acontecido.

Tenho de admitir que a visita ao elefante foi no mínimo interessante, acho que nunca tinha ido ver aquela parte do palácio, pudera, sou rei de portugal, tenho mais que fazer do que me passear pelo castelo, tenho o maior império do mundo para gerir, e ainda não tive um filho, a culpa é da rainha catarina de áustria, ou talvez de deus, e talvez a ausência de um sucessor leve a mais momentos poéticos. Mas é melhor não dizer A culpa é vossa à rainha, ainda se tranca no quarto, Dizeis sempre que a culpa é minha, responderia ela, e não quero qualquer discussão com a rainha de portugal, porque apesar de sensível tem um temperamento no mínimo agitado quando atinge o ponto de saturação. Mulheres. Uma simples palavra descreve um conjunto de criaturas do mais estranho possível, fáceis de amar e igualmente fáceis de odiar.

Mas voltando ao elefante. É sem dúvida um animal belo, um desperdício tê-lo aqui, no palácio, sem ninguém o ver, ainda por cima a pagar o salário a um tratador, ou cornaca, como ele diz chamar-se aos tratadores de elefantes na índia, que pouco tem de fazer, mandá-los para a áustria foi uma jogada de génio que apenas eu, dom joão terceiro de portugal, possui a mestria para jogar. Com a ajuda do secretário de estado, claro, mas a última palavra é sempre minha, por isso o génio sou eu e não pêro de alcáçovas carneiro, talvez, lembro-me agora, este tenha sido um momento poético. Enfim.

Com sorte, amanhã será um dia calmo, o elefante salomão e o cornaca subhro partirão, e a rainha dirá Bom dia meu rei, e eu direi Bom dia minha rainha, e nenhum de nós falará do elefante, pois o destino nos fará chegar o momento oportuno para falarmos disso, poético ou não, e a rainha não chorará, eu não me congratularei por dar um presente magnífico ao primo maximiliano, pêro de alcáçovas carneiro não falará em momentos poéticos, apenas ficaremos calados a pensar no elefante que mandamos para a áustria, uns tristes, outros muito tristes, mas a vida continua, e pensaremos que talvez possamos voltar a ver o elefante, pois o destino põe palavras onde julgávamos haver pontos, embora saibamos que nem o destino colocará o elefante salomão no nosso caminho. Mas amanhã vê-se.

Diogo Pinto, 10ºC

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