Páginas Soltas (Diários)

 Oceano Atlântico, 6 de julho de 1588

 

Que barulho ensurdecedor ressoava na parte exterior do convés! Avistei o capitão muito sobressaltado e percebi logo o que se passava quando levantei o olhar e me deparei com uma enormíssima extensão de terra.

Um sentimento de profunda felicidade apoderou-se de mim, tornando este despertar precoce, às sete da manhã, o mais significativo de toda a viagem. Então, observei a ilha ao pormenor. Admirei os montes irregulares banhados pelos primeiros raios de sol, reluzentes, bem como o areal feérico, quase transparente àquela hora. Imaginei a sensação de poder, com os olhos, contemplar uma visão que só parecia possível em sonhos.

Pouco depois, o capitão ordenou que todos os marinheiros assumissem as suas posições para que iniciássemos a exploração do novo território. Que sensação maravilhosa! O orgulho da conquista após longos meses passados no mar… Quando aportamos, percebemos que a ilha estava repleta de árvores de fruto, um pequeno riacho prolongava-se, curvilíneo, pela costa e graciosas aves planavam, pacientes, no ar. Parecia estar deserta, tal como se comprovou durante as horas que se seguiram.

Apesar de estarmos apenas a principiar esta aventura, enquanto escrevo estas linhas, imagino já como será a reação do rei ao perceber que o seu império está um pouco maior!

Filipa Morais, 6.ºC

 

 

Oceano Atlântico, 23 de fevereiro, 1580

 

«Terra à vista!», gritava-se com intensidade… Todos pareciam exaltados naquela gritaria… Com coragem, percebi hoje que deveria revelar a minha vinda inesperada. Sabia que os marinheiros ficariam descontentes com uma presença feminina no barco, mas nada podiam fazer. Assim, ignorei o espanto e a fúria dos seus comentários e concentrei-me na visão gloriosa que se avistava à distância.

A água refrescante e transparente salpicou-me a cara e fez-me recordar as travessias realizadas com o meu pai, na infância. Como a terra estava próxima, despi o vestido velho que envergava e, já de calças, atirei-me ao mar para alcançar a costa rapidamente. Primeiro, emocionada, estiquei-me na areia e senti os grãos de areia, finos e translúcidos, a colarem-se à minha pele. Depois, levantei-me e explorei o arvoredo daquela espantosa ilha. Os pássaros não se incomodaram com a nossa presença. Cantavam serenamente, enquanto as ramagens das árvores dançavam com delicadeza. Tive uma imensa vontade de ficar por ali todo o dia, a observar todos os animais existentes, mas sabia que seria perigoso.

Pouco depois, repentinamente, comecei a ouvir um rosnar longínquo. Com alguns homens, atrevi-me a entrar na vegetação mais densa, para descobrir a sua origem. Então, vimo-lo – um majestoso felino, de olhos cintilantes e ameaçadores a reluzir sob a luz do sol. Parecia feito de vidro de tão brilhante.

Percebemos todos que não deveríamos avançar mais, por isso, como a noite se aproximava, trepamos a uma árvore e aí ficamos a pernoitar, em segurança. A maioria da tripulação regressou ao barco para que estivesse vigiado em permanência. Agora, enquanto fito as maravilhas da verdejante ilha quase a desaparecer na escuridão, sinto a certeza de ter realizado a escolha certa – partir…

 

 Maria Clara Grancho, 6.º C

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