Poetas do Mundo # 2 (Resposta ao desafio)

 

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças de aquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Luís de Camões

 

O soneto com o qual “Donna, che lieta co’l principio nostro”, de Petrarca, mantém relações de intertextualidade muito próximas (visíveis, por exemplo, no uso da apóstrofe inicial ou do imperativo no último terceto) é “Alma minha gentil, que te partiste”. Exemplo máximo da obra lírica camoniana, trata-se uma demonstração do poder de síntese do nosso maior poeta, que fundiu e transformou quatro sonetos de Petrarca. Segundo alguns estudiosos, “Alma minha gentil…” será um dos poemas dirigidos à amada chinesa de Camões, Dinamene, desaparecida num naufrágio e assim poeticamente designada por corresponder ao nome de uma das ninfas do mar. Para além deste, “Ah! Minha Dinamene, assim deixaste”, “Quando de minhas mágoas a comprida” e “Que poderei do mundo já querer” integram um ciclo de sonetos que evocam a morte da mulher amada e exploram, de forma pungente, os temas do amor e da morte, tão centrais à literatura de todos os tempos.

Por ter sido a primeira aluna a responder corretamente à questão colocada, a Ana Amorim, do 10.ºF, é a vencedora do primeiro desafio literário do Lusografias.

 

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