Horácio (século I a.c.) foi um dos mais importantes poetas latinos, autor, na célebre Epístola aos Pisões, de uma Arte Poética — que foi o mais importante texto de teorização poética, depois de Aristóteles, e o mais referenciado nos séculos posteriores, particularmente pelos clássicos da Renascença. Para além disso, também a nível temático e formal Horácio foi imitado e o seu imenso mérito assim reconhecido através dos séculos.
Segundo David Mourão-Ferreira, em Imagens da Poesia Europeia, “nas suas Odes, a despeito da rigorosa construção, lateja um coração apaixonado; e, muitas vezes, o coração de um homem que, preso embora ao encantamento das musas venais e inconstantes, não deixa todavia de sonhar com a ideal realização de um amor mais alto, mais puro, mais digno afinal de se chamar amor.”
CARPE DIEM
Não procures, Leuconoe — ímpio será sabê-lo —
que fim a nós os dois os deuses destinaram;
não consultes sequer os números babilónicos:
melhor é aceitar! E venha o que vier!
Quer Júpiter te dê ainda muitos invernos,
quer seja o derradeiro este que ora desfaz
nos rochedos hostis ondas do mar Tirreno,
vive com sensatez destilando o teu vinho
e, como a vida é breve, encurta a longa esperança.
De inveja o tempo voa enquanto nós falamos:
trata, pois, de colher o dia, o dia de hoje,
que nunca o de amanhã merece confiança.
(Tradução de David Mourão-Ferreira)