Tabacaria

O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta

Como não ser nada, quando se poderia ser tudo? E como, no que aos outros parece tudo, não ver nada?
A vida separa-nos em dois grupos, logo no momento em que a luz nos toca. Os abençoados e os abandonados. Eu, caso último desta divisão, sou um dos poucos (pelo menos dos poucos que não busca na ignorância a normalidade) amaldiçoados com o triste dom de uma consciência plena. Na pele, os sonhos marcados a ferro quente. Nos olhos, a perceção de que este mundo não é o meu. Na alma, a certeza desencorajadora que para o meu mundo não há caminho. Apenas o sofrimento de não poder tocar os sonhos febris de grandeza que me assaltam. Que me roubam o sono. Sonhos de felicidade. Haverá grandeza maior do que o que nunca poderemos ter?
Da janela do meu quarto, um como tantos, olho a rua. Olho-a como se me olhasse por dentro, a um espelho. Experiência idêntica, semelhante resultado. Nenhum. Apenas um vazio que se prolonga. No silêncio, escuto ecos. Leves fragmentos que me ligam ao mundo em que me largaram por capricho macabro do destino.
O destino escolhe os grandes. A mim tocou-me a ingenuidade de sonhar que eu próprio o poderia ser. Ah…Tantas vidas tenho vividas em mim que já não sei qual delas fui condenado a enfrentar.

Francisco Caetano, 12º A

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