Um Cartão Misterioso II

No dia seguinte, Sara dirigiu-se novamente à livraria. Calcorreou nervosamente todos os corredores, observou ansiosamente cada detalhe de cada estante, de cada prateleira, de cada livro.

Mas nada. Nem um único sinal.

Sentindo-se pesarosamente abalada pela ânsia que, sem aviso, a deixara, sentou-se numa cadeira. Então, como que numa miragem miraculosa, ele apareceu. Alto, cabelo castanho e olhos igualmente aveludados. Um sorriso cintilante e uma expressão perfeitamente serena. Discretamente, o indivíduo colocou um cartão parecido com o que Sara encontrara no dia anterior, encaixado entre dois livros.

Levantou-se repentinamente e, após o homem se afastar, agarrou no cartão, apertou-o fortemente contra o peito, foi esconder-se num canto discreto e começou a ler a mensagem: “Traço sinais vermelhos sobre os teus olhos ausentes.” O seu coração palpitava descompassadamente, descoordenado com o tic-tac do ponteiro inquietante do relógio que reinava sobre o silêncio sepulcral da livraria.

Então, quebrando o inexistente ruído, passos que rangiam sobre o soalho, dirigindo-se na sua direção ensurdeceram a sua alma. Era o homem, esbelto por natureza, fitando-a com um olhar de estranheza.

— Tu… Pegaste no meu cartão? — perguntou ele, com sua a voz a repercutir-se pela mente de Sara como o acorde de uma guitarra.

— Sim… Mas não era para mim? — retorquiu ela, assustada.

— Não… É um jogo que eu e a minha namorada, Sara, fazemos ­ — explicou ele, perfurando a sanidade espiritual de Sara como uma adaga.

— É que… Eu também me chamo Sara… — proferiu, tentando esconder a decepção que a feria.

— Ah!… Que coincidência … Bem, não faz mal — disse ele.

Embora muito a custo, Sara entregou o perfumado de palavras amorosas. Ele sorriu, num gesto que violentamente agitou o seu corpo. Depois, dirigiu-se a uma mulher que o esperava mais atrás.

O seu coração despedaçava-se a cada segundo que passava. Mas então, como que se fosse um sonho, viu um cartão entre dois livros, numa prateleira ali perto. Sara correu, agarrou-se e leu-o. Nem queria acreditar. Além de palavras amáveis, o seu nome, escrito por completo, estava ali.

David Brás, 9ºD

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