Um Cartão Misterioso III

Ainda surpresa, passou o resto do longo dia perdidamente entregue aos seus pensamentos. Várias questões atravessavam a sua mente como setas: “Quem escrevera o bilhete?”, ”Será que o conheço?”, ”Quem será?”…

Assim, com um desejo ávido de descobrir o poeta que atingira fortemente o seu coração, dirigiu-se a casa ao fim de um longo dia, agarrando delicadamente o pequeno cartão azul.

Sonhou com aquele e outros poemas do livro que comprara, que pairavam na sua mente como pequenas nuvens brancas. E no dia seguinte, segurando o cartãozinho, com as mãos trémulas mas firmemente apaixonadas, deslocou-se até à pequena livraria, dando a maior atenção aos pequenos pormenores à sua volta, pois, a partir do momento que aquelas palavras melodiosas haviam atingido o seu coração, Sara passara a observar o mundo com outros olhos.

Entretanto, no caminho, cruzara-se com o seu amigo de infância, Bernardo, um rapaz alto, de cabelos castanhos e crespos, e de olhos azuis e profundos como o mar, com o qual se encontrava mais frequentemente. O seu olhar brilhava ao observar o pequeno livro que Sara abraçava contra o peito. E mal ela entrou naquele espaço fechado, embora aberto à imaginação, começou a correr freneticamente até uma estante perto de uma janela. Aí, um outro cartão reluzia sob a luz do dia. E, como se toda a felicidade estivesse concentrada naquele papel, a rapariga estudou atentamente cada letra delicadamente escrita, que formava mais dos tão esperados versos:

“A tua voz é suave como um beijo,
a curva dos teus olhos abraça o meu coração.”

Um sorriso apaixonado formou-se no seu rosto. Como se um despertar para outro mundo, sentiu a mão de Bernardo pousar levemente no seu ombro. E, ao voltar-se, os seus olhos encontraram-se e Sara sentiu o bater do seu coração, como nunca sentira antes. Então, o rapaz retirou suavemente o cartão das suas mãos trémulas e, virando-o, ela conseguiu ler, em letras tão pequeninas, como estava escrito o seu nome no outro cartão:

“Não foi importante o dia em que te conheci, mas sim o dia em que passaste a viver dentro de mim. Perdidamente apaixonado, Bernardo.”

E aí, Sara entendeu que o seu destino estava cruzado com o do amigo, tal como o seu olhar se cruzava apaixonadamente, acendendo uma chama interior, como um amor infinito. E embora nenhum dos dois fosse nem marinheiro, nem mergulhador, ambos se tinham afogado nesse mar traiçoeiro que se chama amor.

 

Maria Luís Veloso, 9.ºC

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