Um Cartão Misterioso IV

O calor percorria-lhe o corpinho delicado desde a ponta dos dedos até à sua cara de porcelana, tingindo-a de um tom vermelho vibrante. As suas mãos impacientes deslizavam suavemente sobre cada letra, de cada palavra do tal poema, numa busca desenfreada pelo profundo significado daqueles apaixonantes versos.

Sara registava nervosamente todas as hipóteses infundadas num velho caderno, marcado pelo tempo. E assim se passaram várias horas.

Releu as suas teorias e apercebeu-se de que todas se pareciam ligar numa específica particularidade — em todas elas a resposta era o verso “Uma única palavra tua”. Mas qual o significado dessa coincidência? Quanto à resposta, Sara não tinha a certeza, mas sabia que estava cada vez mais perto de encontrar o seu afável amante.

A rapariga refletia obsessivamente sobre o gracioso verso, até se aperceber, subitamente, de que a única palavra sua, isto é, que lhe pertencia era, seguramente, “Sara”.

Folheou o livro em busca desta distinta palavra e encontrou-a na zona de agradecimentos, onde estava escrita: “Para a minha prezada Sara, que um dia abrirá este livro e se entregará à sua envolvência.” Sem pensar duas vezes, agarrou uma tesoura e cravou-a na capa da obra, rasgando-a, para retirar um cartãozinho onde se podia ler: “A tua voz é suave como um beijo”.

Sara, apercebendo-se, instantaneamente, de que o som agradável a que o admirador se referira era o mesmo som que as ondas do mar reproduzem quando beijam a areia, correu até à praia.

Quando lá chegou, reparou num indivíduo sentado na mais alta rocha a contemplar o mar. Era um homem delgado, de cabelos lisos e castanhos cor de outono e de olhos esverdeados e límpidos, que se assemelhavam a dois pequenos charcos.

Gritou por entre os ventos bravos, chamando a atenção do sujeito e, a partir daí, insondável, uma história de amor nasceu.

 

Maria João Sousa, 9.ºD

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