Após reviverem o percurso de vida do náufrago mais inspirador da literatura, Robinson Crusoé, os alunos de sexto ano viveram o seu próprio naufrágio imaginário. Aqui ficam as suas memórias escritas.
1.
22 de agosto
Esta manhã vivi o meu primeiro confronto com a morte.
Acordei bem cedo, assustado com o som dos trovões que rugiam fortemente sobre a Terra. O tempo, cada vez mais descontrolado, ia formando ondas cada vez mais fortes e , ao longe, avistavam-se já muros de água gigantescos. Rapidamente, preparei a embarcação para o embate com a tenaz onda. O primeiro choque foi suportado, mas aproximava-se uma outra onda com o dobro do tamanho e da ferocidade. Desta vez, a onda não deu o seu consentimento e o estrondo produzido pela queda dos mastros foi impetuoso, acordando, certamente, todas as criaturas vivas. A tripulação não teve qualquer hipótese e foi completamente engolida pela tempestade.
Quando a tempestade acalmou, não consegui perceber onde estava e, após momentos de desespero e assombro, naufraguei numa ilha desconhecida, agarrado ao que era o destroço do barco, agora em lastimável estado. A proa encontrava-se totalmente destruída, os mastros quebrados cismavam perdidos e tudo o que restava se ia desfazendo ao longo do areal.
Mal consegui erguer-me, fui procurar comida, tentando perceber se a ilha estava habitada. Não encontrei vestígios de vida humana, apenas árvores e natureza selvagem.
À noite, comi algumas bagas e relembrei o trágico acidente que mudara a minha vida.
João Barão, 6.ºC
2.
26 de outubro
Esta manhã vivi o meu primeiro confronto com a morte.
Até estava uma bela manhã e as águas brilhantes do oceano ondulavam ligeiramente. Comíamos tranquilamente até que um marinheiro gritou “perigo”. Todos ficamos alarmados e, sem hesitar, dirigimo-nos rapidamente à popa do navio. Subitamente, desencadeara-se uma enorme tempestade!
O mar mostrava-se agressivo e exibia as ondas enraivecidas. A tripulação, em pânico, encaminhou-se para os botes, apesar do esforço do capitão para controlar a gente. O diabo possuíra o mar e a tempestade intensa não possibilitava qualquer sentimento de esperança. A constante agitação partira o barco ao meio e, ao despedaçar-se, o casco lançara para a morte muitas pessoas que não resistiram à ferocidade do mar. O capitão conseguiu ainda, em desespero, lançar tiros de socorro, mas nada mais podia ser feito.
Não sei como consegui sobreviver durante tanto tempo… Lembro-me de me aproximar de um bote, de o lançar à água e, depois de um golpe de adrenalina, remei como nunca tinha remado na vida. Enquanto os meus braços garantiam a minha sobrevivência, os remorsos atormentavam-me. Tinha deixado para trás dezenas de pessoas, apesar de me tentar convencer que nada podia ter feito. As lágrimas corriam-me pela cara, no entanto continuei a remar até encontrar terra.
Jonas Bratt, 6.ºC
3.
4 de setembro
Esta manhã vivi o meu primeiro confronto com a morte.
Manhã negra e malvada durante a qual as ondas lutaram de forma constante com o barco. No caminho de regresso a Portugal, o mar empurrou e pressionou de tal forma o seu casco que este cedeu à força violenta, naufragando de exaustão. A morte devia estar à minha espera, para me levar também, pensei assustado, pois, após o esforço para me salvar, já não conseguia mover-me ou sentir o que quer que fosse. As ondas tenebrosas, porém, levaram-me para um misterioso areal de uma ilha desconhecida. Arrastaram também todos os destroços do barco, abandonando-os depois ao acaso.
Mais tarde, muito mais tarde, as ondas acalmaram e o receio de morrer também. Pude ver então que a vegetação da ilha era densa e que, provavelmente, poderia oferecer abrigo se me esforçasse para encontrar um pequeno recanto que me pudesse proteger. Dei alguns passos e toda a esperança se dissipou – os cadáveres de alguns sobreviventes agitavam-se na orla marítima no bailar da maré.
Afastei-me rapidamente, alcancei o cimo de um pequeno monte, ajoelhei-me de cansaço, de desespero e rezei. Só a fé poderia salvar-me agora.
Maria Barros, 6.ºC