Noite, vão para ti meus pensamentos,
Quando olho e vejo, à luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inúteis tantos ásperos tormentos…
Tu, ao menos, abafas os lamentos,
Que se exalam da trágica enxovia…
O eterno Mal, que ruge e desvaria,
Em ti descansa e esquece alguns momentos…
Oh! Antes tu também adormecesses
Por uma vez, e eterna, inalterável,
Caindo sobre o Mundo, te esquecesses,
E ele, o Mundo, sem mais lutar nem ver,
Dormisse no teu seio inviolável,
Noite sem termo, noite do Não-ser.
Antero de Quental, Sonetos
O soneto em análise, “Nox”, da autoria de Antero de Quental, tem como tema a noite, aqui invocada e utilizada como analogia para a morte do sujeito poético, que se encontra em sofrimento constante. Na verdade, dado que esta angústia persiste, só a morte o poderá libertar desse estado de dor interior.
A composição poética é composta por duas quadras e dois tercetos, segundo o esquema rimático ABBA/ABBA/CDC/EDE, de versos decassilábicos interpolados (AA,DD), emparelhados (BB) e cruzados (CC,EE). Nas duas quadras iniciais, o eu lírico, considerando cruel a realidade circundante, dirige-se à Noite, realçando a sua angústia por não conseguir travar “tantos ásperos tormentos”, desejando, por isso, a Morte. No segundo momento do poema, os dois tercetos, esta é, então, apresentada como resposta libertadora para o sofrimento do eu poético: “E ele, o Mundo, sem mais lutar nem ver,/Dormisse no teu seio inviolável”.
Podemos constatar, ao longo de todo o soneto, um tom apelativo e persuasivo, visível na personificação da Noite, que surge aqui como confidente e apaziguadora do sujeito poético. Ora, os seus tormentos são o resultado da agitação, desordem e crueldade transmitida pela “luz cruel” e pelo Mundo, daí que a escuridão e a Noite, salvadores da verdade da Vida, sejam o seu refúgio. Deste modo, verifica-se uma relação de proximidade, apresentada ao longo do poema sob a forma de diálogo, que permite que o eu lírico confie à Noite os seus “pensamentos”, visível nas apóstrofes: “Noite”, “Tu”, “Noite sem termo, noite do Não-ser”. Além disso, veja-se o uso da adjetivação nos seguintes casos: “luz cruel”, “estéril lutar”, “trágica enxovia”, em que a dureza da realidade circundante é reforçada. Neste sentido, a repetição anafórica do quantificador “tanto(as)”, na primeira estrofe, acentua o cansaço do sujeito poético, associando-se à metáfora “trágica enxovia”, que realça a ideia de que a vida se tornou uma prisão, um lugar de sofrimento, alimentado por um “eterno Mal”, que, personificado, “ruge e desvaria”. Por fim, a interjeição “Oh!” — que introduz a segunda parte do soneto — é utilizada a fim de salientar o desânimo do sujeito poético, levando-o a desejar a “Mors Libertrix”.
Concluindo, podemos inserir o soneto num conjunto de textos anterianos, cujo sentimento de angústia existencial se evidencia — decorrente de uma inapelável ânsia de absoluto—, já que o sujeito poético, consciente da desordem do mundo, aspira ao equilíbrio. O mistério permanente da Vida e da Morte criam no poeta um estado de ansiedade e de interrogações metafísicas, pautadas pelo desânimo e pessimismo, sendo, assim, a Morte o tema do poema.
Rodrigo Sousa, 11.º C
Maria Marques, 11.ºD
Jerupiga Marreta
Obrigado por me safarem o trabalho de português, são os maiores da vossa aldeia :))
matilde
ajudou me imenso no meu trabalho de português! Tinha literalmente todas as soluções para as perguntas do manual , obrigada por fazerem com que não tenha que pensar muito 😉