Desde sempre, a família assumiu um papel de extrema importância na vida de um indivíduo, a quem são transmitidos os seus valores e saberes. A obra A Tábua de Flandres, de Arturo Pérez-Reverte, retrata este tema de uma forma única e distinta.
Com efeito, estabelecem-se no seio da família relações de proteção e amor profundo que visam criar um espaço de confiança e harmonia, onde os integrantes se possam desenvolver. No entanto, os relacionamentos, por vezes, tornam-se extremistas e prejudiciais. Na obra referida, César assume um papel de figura paternal e confidente na vida de Julia (personagem principal) desde muito cedo. O homem nutre pela rapariga um carinho diferente de tudo o que alguma vez sentira por alguém, e, por conseguinte, cria uma ligação emocional muito forte com ela, ou seja, um amor de pai. Assim, nas primeiras páginas, a família apresenta valores comuns, como a união e a confiança: “Sorriu ao pensar em César. Desde pequena que sorria sempre ao pensar nele. Um sorriso terno, muitas vezes cúmplice.”
Mais tarde, todavia, o livro atribui à família valores de ódio e de fanatismo quando os sentimentos de César por Julia se tornam abusivos e este desenvolve uma antipatia pelos amigos da mesma, maltratando-os, devido à afinidade pela mulher, algo que temia perder, como comprova a expressão: “Eu tinha organizado tudo para te libertar de laços e influências perniciosas […]”.
Por fim, podemos também sublinhar a família retratada no quadro que Julia trabalha durante a obra, em que é vista como um pacto criado para restabelecer a paz entre dois países, em vez de uma união matrimonial a favor do amor, isto é, é-lhe fornecida uma visão mais prática do que sentimental. Tome-se o exemplo do seguinte excerto: “A boda foi […] para consolidar a aliança com Ostenburgo face à França […]”.
Em suma, esta obra distingue-se das restantes por transferir para a família valores que raramente lhe são atribuídos, como o fanatismo e a união com fins, neste caso, políticos.
Maria João Sousa, 10.ºE