“Em dezembro de 1849, aos 28 anos, Fiódor Dostoiévski preparou-se para encarar a morte olhos nos olhos. Condenado com outros intelectuais à pena capital, por participar num círculo literário acusado de conspirar contra o czar Nicolau I, enfrentou o pelotão de fuzilamento numa praça de São Petersburgo. Uma ordem do líder supremo do império, assinada uns dias antes, mas entregue em cima da hora para castigar os prisioneiros com a iminência do fim, comutou a pena para quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria. Poucos escritores terão vivido uma situação-limite tão radical quanto esta, mas Fiódor, que ficara duplamente órfão ainda adolescente e cedo trocou a engenharia pela literatura, não só transfigurou a sua visão da vida como soube utilizar, a partir daquele momento, todo o tipo de experiências pessoais (da epilepsia ao vício do jogo, passando pela navegação complexa das ideias políticas e religiosas na Rússia do século XIX) para erguer romances de assombrosa densidade psicológica, narrativas complexas cuja influência ainda hoje se faz sentir. “
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