O que andamos a ler no 10.º ano

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Coimbra, 8 de agosto de 1354

Saudoso confidente,

Mais um dia consumido polo temor. Não sei se leda ou triste, fortuna esta minha. El Rey Afonso IV, pay de meu amor, quer-me por morta. Dizei-me que mal eu fiz! Não se lembrará ele de seus netos, penhores, que sem mi, ficaram desemparados?

Piadade! Piadade desta molher, desta innocente que do mundo querem levar. Tomam-me todos por imiga, imiga do Reino, d’el Rey e do Iffante. Temem eles que má molher eu me torne por Pedro. Temem que nossos filhos tomem o poder que a D. Fernando os fados ditáram. Nada soy a D.Pedro, soy eu apenas comadre, D. Constança a princesa. Que poderei fazer? Somente lhe paguei aquelle amor com outro amor. Porque me querem matar? A Deus, el Rey dos Ceos, muito pequei, mas nunca commetti mal contra Portugal. Cumpri meu dever porque ficasse alegre e co meu gran amor em paz. Ajuday-me a pedir misericórdia, pois mais não aguento tal desespero. Ó Deos justo, Deos benigno… Enche de lágrymas est’ alma quasi morta. Não me podem accusar de peccados contra el Rey, mas sim a Deos, Elle dá tempo de vida y ocasião pera perdoar…

Minh’ama e confidente me conselha e diz “o que à vontade se faz mais impossível, mais deseja”. Quero eu viver segura mas a morte me persegue. Soy hua donzela apaixonada e o Iffante Pedro, meu doce amor, minha esperança e honra, deu a Constança a mão. Por sempre o amarei y ele guardar-me-á sempre amor, desejo e fé. Ó D.Pedro, antes morte que vida sem vós quero. Deixay-me ajuntar-m’a elle pera vivermos alegres. Vos escrevo, meu diário, ca minh’ama dizia “o mal s’ abranda, o bem contando-o cresce”. Mas continuo sofrida e co tempo e co desejo arde o fogo. Como me culpam elles? Soy humana, tentações grandes vencem ânimos fortes. Não deixeis que me tirem meu bem mais valioso e ajuday-me a fugir à ventura e o perigo. Não póde assi ser a Razão cega, vede meu sofrimento, tende misericórdia dest’ amor. O Amor he tudo o que nos resta aquando mais nada temos. Nosso amor he firme, capaz de todos fazer saber a crueza de tal decisão, de me ter por morta. Capaz de vencer vozes e poderes. Mais deveria el Rey querer perdoar que ser injusto. Falai do bem commum e ignoray est’ amor. Ficaram convosco o arrependimento e a culpa. Inda que injusto, abrandarei e viverei em quanto Deos quer. Cuidarei no bem e segura té que a Morte m’encontre. Minh’ alma mora n’alma do Iffante. Morrerei eu, e ele logo. Não mateis dous amados. Vivo, coitada molher fraca, por elle. Quem me d’elle tirar, tire-m’a vida. Minh’alma lá elle ma tem, tenho cá a sua.

Por longe delle estar, sofro. Mais nada poderei fazer, senão aceitar tam gran mal. Ó que crueza tam féra, e tam bruta! Moça inocente, por amor só morta. Qu’os conselheiros leaes del Rey saibam ver além da Razão e do bem público. Que saibam a força de tal amor e bem conselhem. Rezo a Deus, resta-m’a mi rezar. Não posso mais falar… Senhor, dando-m’a vida a mi, eu irey logo, onde nunca apareça co estes penhores… Qu’a paixão conquiste a Razão!

Rogo por justiça. Se assim for a vontade de Deus, em breve vos escreverei novamente.

Sempre vossa,

Inês de Castro

Leonor Castro, 10.ºD

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