Escrito por Helena Marques, O Bazar Alemão revela-nos memórias de histórias reais, cruzadas com personagens fictícias, nos primórdios da Segunda Grande Guerra Mundial.
Inspirado nos eventos e acontecimentos ocorridos na Madeira, mais especificamente no Funchal, durante a antecâmara da Segunda Grande Guerra, a obra retrata os efeitos das ideologias antissemitas, neste caso a divulgação da Lei de Proteção do sangue e da honra alemães, no quotidiano das personagens face à latente ameaça de guerra.
A lei acima mencionada, a terceira das Leis de Nuremberg, é, de facto, aquela de cariz político que mais repercussões tem na vida social do Funchal. Assim é, porque dificultava relacionamentos, casamentos e, até mesmo, qualquer tipo de interação entre judeus e alemães; em simultâneo, esta revela-se um obstáculo para os protagonistas, Lilsbeth e Eugen, criando uma trama apaixonante à volta deste relacionamento.
Na sua obra, a autora recria uma atmosfera de tensão, por vezes contínua, propícia ao desenrolar da narrativa, que se alimenta deste elemento de suspense em que mergulham as personagens. O Funchal encontra-se ensombrado por “promessas” de guerra iminente que a neutralidade lusa, face à guerra, não consegue mitigar.
Uma outra atmosfera que a autora recria de forma exímia é o cenário da vida da sociedade do Funchal dos anos 30: uma vivência prazenteira, relaxada, embebida nos usos e costumes locais.
Temos, então, duas atmosferas a coabitar nas mesmas linhas diegéticas que proporcionam ao leitor o pano de fundo de todo o drama e inquietude inerentes ao romance. A descoberta dos arquivos e consequente investigação levada a cabo por Anne Emonts, assim como, o conhecimento de um dos casais principais, personagens reais, conferem à obra um cunho histórico, que do meu ponto de vista é de valorizar.
Por outro lado, a força aparentemente divina do amor e o martirizar das personagens femininas parece induzir na obra um caráter excessivamente sentimental, o que pode dissuadir alguns leitores mais afeiçoados à história do que ao romance.
Em jeito de conclusão, é um bom livro que recomendo, pois, sendo uma obra de ficção, consegue, através de um bom enquadramento histórico dos acontecimentos, inserir o leitor no ambiente inerente às contingências da época.
Gabriel Silva, 11º Ano B