Poema de Simão Botelho (“Amor de Perdição”)

Alguma vez se sentiram perdidos?
Alguma vez te sentiste esquecido?
Bem, eu sinto algo parecido
Podem emprestar-me os vossos ouvidos?

Tenho algo para partilhar
Mas não tenho nada para dizer
Desejava conseguir parar
De ser quem desejava não ser

Mudaria aquilo que destruí?
Silenciaria as vozes na minha cabeça?
Roubaram o amor que construí!
Parece que o arrependimento nunca começa!

O espírito de Baltasar uiva pelo vento
O seu sangue na calçada em que tropeço
A minha amada Teresa saiu do convento
Mas era só o fim do começo

Não ouço a canção de arrependimento
Um sopro que apague a chama
Quanto vale o meu sentimento
Agora que nenhum amor me chama?

Deito-me na minha cama
Sofro a cada respiração
Sofro por aquela dama
Que me roubou o coração

Se a pudesse observar a receber
Uma das cartas que lhe escrevi
Saberia porque estou a sofrer
Saberia porque assim saberia o que vi

Ela pode nem ler as minhas palavras de amor
Pode não saber tudo o que quebrei por ela
Quebrei leis, quebrei famílias que enchi de dor
Quando a via ao longe, queria quebrar a janela

Quando cais na floresta
E não há ninguém a ouvir
O que mais te resta?
Haveria alguém para sorrir?

Sai! Sai da luz e corre
Talvez assim não saias queimado
Quando há algo em ti que morre
É possível sentires-te amado?

Resolve tudo com a tua própria mão
Eu aprendi a pensar assim!
Tem mais calma Simão
Não, eu entendo o que pensam de mim

Não é ódio nem desespero
Não é nada que sequer se pareça
É uma esperança, algo por que espero
E procuro algo que apareça

O amor não discrimina
Entre os santos e os pecadores
Nunca houve nenhuma disciplina
Que protegesse os perdedores

Mas mesmo assim nós amamos
Caímos e aprendemos mais a cada dia
Rimos e sofremos e choramos
Até o mais fraco faz o que não podia

Por isso cometo os mesmos erros ao desesperar
Descobri que isso é fácil de aprender
Estive sempre pronto para amar
Nunca estive pronto para perder

Porque cheguei a disparar a pistola?
Porque apressei a decisão?
Como um mendigo a pedir esmola
Porque não soube dizer que não?

Porque é que o amor é tao comovente?
Quando é que a minha vida se tornou estagnada?
Dizem-me que Teresa está doente
E assim perco a minha amada!

Mas a última a morrer é a esperança!
É isso que me diz a minha querida Mariana
E enquanto prosseguimos nesta dança
Sinto que também ela me ama

Mas como a mantenho comigo sem a magoar?
Como correspondo a dois amores?
Sinto que o destino me sufoca e me rouba o ar
Como salvo todos os que me amam de mais dores?

João da Cruz arriscou a sua vida por mim
Nunca quis toda esta responsabilidade
Nunca pedi para me sentir assim
Esta dor cresce exponencialmente a sua idade

Mariana trocaria tudo por um amor fatal
Um amor que jamais poderei corresponder
Não lhe desejo um único mal
Mas sinto que um dia a farei morrer

Teresa desafiou o seu pai pela nossa paixão
Escolheu-me a mim em vez de tudo o resto
Trocou toda a sua vida pelo meu coração
Tenho um amor sincero mas sinto-me desonesto

Baltasar desafiou o meu amor
Ousou enfrentar-me e pereceu
Questiono se fiz justiça ou horror
Não, ele não, ele mereceu

Penso em embarcar naquele navio
Fugir e nunca mais sofrer neste país
Morrer longe, ter coragem para cortar o fio
E talvez assim cortar o mal pela raiz

Mas porquê afastar-me da minha nação?
Quanto vale o amor que possa sentir?
Protejo a minha alma ou o meu coração?
Já não acredito em em desistir!

Quando precisarem de um amigo
Quando estão desesperados no chão
Podem acreditar quando vos digo,
É aí que se encontrarão

Deixem esse sofrimento desvanecer
Para sorrir encontra-se sempre uma razão
Porque quando sentem que se estão a perder
Podem esticar a vossa mão

Mas vale a pena?
Seguindo um poeta verdadeiro
A alma nunca foi pequena
Nem suave como a lã de um cordeiro

Mas porquê ouvir um falso poeta?
Um exagerado, um arrogante,
Que finge que todos têm a mesma meta
Quando a diferença pode ser gigante!

Porque usa palavras caras, porque rima
Porque embeleza e complica
Porque toda esta poesia cria um clima
Porque se esforça para usar linguagem rica

Não! Não vos engano, não vos minto
É porque penso primeiro com o meu coração
Porque como qualquer outro sei o que sinto
E porque me perdi num amor de perdição.

 

Miguel Varela, 11.ºF

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