Um Botão Sentimental

Era um grande botão encarnado. Nascera numa fábrica longínqua, do tronco de um carvalho antiquíssimo. Daí, entrara numa máquina complexa que o recortara em forma de círculo, com quatro pequenas fendas e um rebordo trabalhado. Mais tarde, fora cosido a um casaco vermelho muito elegante e, posteriormente, oferecido a uma menina alegre e imaginativa, que o tratava muito bem.

Ora, esta circunferência estava habituada a mimos: dormia toda a noite num armário muito arrumado, num cabide forrado a veludo. Pela manhã, era escovado e, logo depois, a sua dona chegava, acariciava a sua face lisa, enquanto se cobria comodamente com aquele manto vermelho. Depois ia passear. Reconhecia, com agrado, a cadência musical dos passos da rapariga, que ao caminhar executava pequenos saltos, como se estivesse numa dança permanente.

Naquele dia, porém, as rotinas alteraram-se drasticamente. Em vez de ser acariciado pela dona, foi amassado no meio do casaco que adornava e colocado num saco de papel. Sentiu, então, o seu corpo ser apertado por outros volumes numa espécie de caixa resistente e escura. Sentiu-se transtornado pela rudeza daquela situação, pois não estava habituado a maus-tratos. Passou alguns dias naquela escuridão deprimente. Pouco a pouco, sentiu que as linhas que o seguravam começavam a ceder e, entristecido, compreendeu que fora abandonado pela dona. As cordas vermelhas quebraram-se, finalmente, e ele escorregou para o fundo da sua prisão.

Ali ficou, esquecido e moribundo, a lamentar o seu destino.

5.º D (Texto Coletivo)

 

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