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TERCEIRO DIA

Vésperas

Devo confessar, encontro-me perdido nas minhas conjeturas, a desafiar a racionalidade. Nem as obras de Roger Bacon me parecem iluminar, guiar-me nesta penosa senda da verdade que me escapa. Múltiplas justificações emergem como resposta à dolorosa carnificina que atinge o mosteiro; tantas suposições tornam esta busca pelos factos impenetrável e inatingível. Temo desistir. Já quase considero culpado o Anticristo, anunciando o Juízo Final, momento em que tudo cairá no arbítrio. Note-se Adelmo: morte seguida de uma nuvem púrpura que avançou de Setentrião, o relampejar e o ribombar dos trovões que assolaram essa noite de tempestade. A visão dramática da Morte e do sangue derramado, premonitórios da condenação divina.

Atormenta-me pensar que estou perdido nas pistas que me revelam um mistério indecifrável: línguas e dedos com mórbidas manchas. A que se deverá esta mensagem que me liga àqueles que a morte condenou? Será resultado de um alimento venenoso? Se assim for, porque só os dedos da mão direita apresentam esta sinistra coloração?

Apesar de perdido, tal como assumi, nesta sequência de chacinas, longe mas perto de uma verdade certamente obscura e avassaladora, sei que a minha resposta se esconde nessa labiríntica e misteriosa biblioteca. O problema é que ainda não compreendo a sua disposição e não me aventurarei novamente como Adso — o noviço mais brilhante de quem fui mestre, devo notar — nos seus corredores serpentinos. Que segredos ocultará a interdita área estipulada pelo abade? Não tive a perspicácia de me orientar em secretas incursões pelas numerosas salas sem os meus auxiliares de visão, estranhamente desaparecidos e tão preciosos nas minhas cinquenta primaveras que cada vez mais me trazem a escuridão.

As mortes terão de cessar e, assim sendo, voltarei a ficar vazio. Concentrar-me-ei, nesta noite, em refletir acerca de todos os indícios, pois reconheço e provei, através da localização de Brunello, que a observação e a razão serão sempre os caminhos a percorrer para se obter uma resposta verdadeira a um acontecimento real.

Deus me ilumine e me tire do obscurantismo,

Deus me ajude a cessar a carnificina que assola esta abadia,

E que Deus me dê também a racionalidade para me apoiar.

Guilherme de Baskerville

Ana Amorim, 10.º F

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